segunda-feira

A rua dos Cataventos


Da vez primeira em que me assassinaram

Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...

Depois, de cada vez que me mataram

Foram levando qualquer coisa minha...


Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

(in:A rua dos Cataventos. Porto Alegre: Globo, 1940.)

Um comentário:

Nina disse...

Eita!!! Esse é pra rechear a minha cabeça cheia de dilemas, que se encaixam tão bem com essas palavras - pesadas, sarcásticas... Enfim, não sei e sei.

Fiquei emocionada com o comentário, e acho que essa frase que nos recebe na caixa de comentários não podia ser mais perfeita.

=****